Pesquisar este blog

25/08/2019


O “ÁLIBI” AMAZÔNICO NA ERA DO “NEO-IMPERIALISMO VERDE”


Compartilhe
O “ÁLIBI” AMAZÔNICO NA ERA DO “NEO-IMPERIALISMO VERDE”
                                                                                     Alex Fiúza de Mello

Com a prevista assinatura do Acordo Comercial entre a União Europeia e o Mercosul, os produtos agrícolas brasileiros invadirão o mercado do Velho Mundo com preços altamente competitivos, ameaçando a hegemonia dos ruralistas franceses que, ali, há décadas, graças ao protecionismo estatal – e não à produtividade – lideram o agronegócio. A chegada das commodities brasileiras, assim, torna-se uma ameaça econômica aos fazendeiros gálicos, porém uma “oportunidade política” ao Governo francês, o qual, já desgastado em nível interno, encontrou na “questão amazônica” – no sensacionalismo das denúncias de queimadas florestais (que nada mais reproduzem que a média histórica dos períodos de seca) – um excelente álibi para retomar algum protagonismo regional, na esperança de recuperar, ao menos parcialmente, o abalado prestígio político perante seus atuais opositores. Com a proximidade das eleições, o presidente Macron se projeta como arauto de um falso (e oportunista) “ecologismo”, manipulando acusações ao Governo brasileiro com a finalidade de dificultar o avanço das negociações comerciais entre os dois blocos e obter, em consequência, o apoio das fortes corporações de produtores rurais e iludir eleitores “progressistas” mais desatentos.
Por razões distintas, mas com a mesma motivação macroniana, outros tantos governantes europeus, em declínio político, resolveram se juntar ao populista francês para se autodeclararem os novos “defensores” da “sua” Amazônia (sic!), cuja floresta estaria sendo “criminosamente destruída” com a conivência e o incentivo de um Governo “fascista”, descomprometido com o equilíbrio ambiental do planeta. Nada, aliás, como a Amazônia, “pulmão do mundo” – do qual (falsamente) dependeria o oxigênio da humanidade –, para mobilizar e unificar povos e nacionalidades, mentes e corações – particularmente num momento de desencanto e de crise civilizatória – numa luta “gloriosa” contra os “vândalos ecológicos” – evitando-se mirar o próprio espelho com a terceirização da “culpa”.
Por “coincidência”, até o Vaticano vem a público acusar e denunciar os “maus tratos” com a floresta e tribos indígenas, como se a Europa e a “civilização cristã” fossem o maior exemplo histórico de respeito à preservação da natureza e à autodeterminação dos povos.
Tudo uma grande armação! Tudo uma grande farsa! Tudo um jogo oportunista de motivações econômicas, políticas e geopolíticas – com temperos ideológicos – ancoradas no aparente interesse pela “preservação ambiental”, quando, ao fim e ao cabo, o que de fato interessa aos “estrategistas globais” é o acesso às riquezas do subsolo e da biodiversidade amazônica (água, minérios, princípios ativos), cujas matérias-primas, aí presentes em abundância e qualidade, moverão o mundo no século XXI – como no passado moveram o mercantilismo dos séculos XVI e XVII, o industrialismo dos séculos XVIII e XIX e o imperialismo do século XX. Em outros termos, trata-se de uma reação orquestrada de algunsplayers transnacionais à mudança de postura do atual Governo brasileiro em não mais acatar, passivamente – a exemplo dos anteriores –, por submissão colonial, as decisões de grandes conglomerados econômicos (com o apoio de seus respectivos governos e a cumplicidade de ONGs pagas para tal) sobre o uso da maior floresta tropical do mundo, sem qualquer respeito à soberania nacional e ao propalado direito de autodeterminação dos povos – que só é respeitado quando interessa aos donos do planeta.
A Amazônia é uma região de 7 milhões de quilômetros quadrados, 60% do território brasileiro (maior que mais da metade da Europa, excluída a Rússia), que abriga cerca de 25 milhões de habitantes, 85% vivendo em cidades (e não no campo) sem infraestrutura, sem saneamento básico, com péssimos serviços de energia e comunicação, com altas taxas de desemprego e de analfabetismo, dados que jamais mobilizaram as atenções mundiais de seus “defensores” – mais interessados em riquezas naturais que em gente.
O que a Amazônia precisa é de muito dinheiro, muito investimento em infraestrutura, educação, ciência e tecnologia, para poder ser capaz de se desenvolver mantendo a floresta em pé e aproveitando racionalmente – com conhecimento de ponta – as riquezas de sua biodiversidade. Tudo o que nenhum país está disposto a ceder. Nem mesmo o Brasil – que, há muito, numa atitude colonialista interna, mantém o seu olhar distante da região, tratando-a como “terra exótica”, habitada por índios e papagaios, almoxarifado da indústria sulista e “reserva ecológica” para turistas pós-modernos.
Por certo, por vias tortas – e sem a “elegância” e a diplomacia requeridas –, o Governo Bolsonaro colocou, correta e oportunamente, a questão na ordem do dia. Erra na forma, mas acerta no conteúdo. O debate é bem-vindo e urgente. Prioritário. Um dos mais estratégicos para o futuro do país – já que a Amazônia não pode ser entendida como uma “questão regional”, mas “nacional”. Exige, por tudo, reflexão, inteligência, ciência e distanciamento ideológico. Trata-se, além do mais, de uma questão de soberania e de geopolítica de primeira ordem.
Sim, de uma vez por todas – e enquanto é tempo –, os brasileiros precisam se apropriar produtivamente da Amazônia e compreender que a região, por guardar as maiores riquezas do país, é o maior desafio nacional do século XXI e a maior oportunidade de crescimento do PIB brasileiro neste século que se inicia. Para isso precisa ser priorizada e valorizada nos investimentos governamentais e da iniciativa privada, sobretudo na consolidação, em seu meio, de parques e centros científicos e tecnológicos que transformem, pelo conhecimento aplicado, riqueza natural em riqueza econômica e social – ou vantagens “comparativas” em vantagens “competitivas”.
O mundo já entendeu isso há muito tempo. Americanos e europeus, sobretudo. Somente as “lideranças progressistas” brasileiras, colonizadas por um “ambientalismo” cretino, de preservacionismo retrógrado, ainda não. Saúdam, em consequência, o seu novo líder: Emmanuel Macron!
Allons enfants de la patrie!