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18/09/2018

Bolsonaro. Análise.


Fui sempre muito franco com quem (sabe-se lá o porquê) me pedia por uma avaliação sobre Jair Bolsonaro, ainda enquanto deputado.

Eu lhes dizia: não é um perfil para chefia de Estado. Demasiado corporativista. Poucas luzes. Comportamento instável. Reduzida capacidade de diálogo. Por suas características pessoais, está léguas distante de meu ideal de gestor da coisa pública e garantidor do bem comum (afinal, o bisonho sistema brasileiro força o amálgama entre líder nacional e chefe de governo, missões para temperamentos dificilmente compatíveis). Suas próprias rotinas enquanto parlamentar não me inspiram confiança.

Dizia-o mesmo diante de amigos que, conhecendo pessoalmente o capitão, teciam juras sobre sua sinceridade e disposição por aprender, aperfeiçoar-se e entregar ao país um serviço digno de soldado esmerado.

Quando Bolsonaro surgiu propriamente como candidato, inovou ao reconhecer que não tinha conhecimento sobre determinadas áreas técnicas (finanças, economia...) -- o que, a rigor, pouquíssimos políticos compreendem, mas nenhum outro assume desconhecer. Foi então que, para mim, começou a ficar claro: estávamos diante de alguém consciente de assumir uma missão muito maior do que ele próprio, e a despeito de si. Não era o tipo de atitude condizente com um simples aproveitador.

Agora temos uma límpida linha divisória: de um lado, o sujeito que poderia estar tranquilo em seu obscuro mandato parlamentar, com a reeleição garantida por atos circenses atabalhoados, mas tomou as rédeas de uma campanha (literalmente) suicida para confrontar o castelo de mentiras da Nova República e a falsa normalidade de um país mafioso de cima a baixo, onde se convive com a guerra civil, a dilapidação cultural, a escravidão tributária e o oligopólio administrativo como se tudo compusesse uma rotina inevitável (é o verdadeiro "Brazil: o filme", ficção inglesa de 1985 com Robert De Niro, na qual as socialites degustam seu chá com bolinhos enquanto as paredes do Café são explodidas por bombas terroristas e o conserto de um ar-condicionado vira pesadelo burocrático orwelliano).

De outro, hienas que se aproveitam há mais de trinta anos dessa conjuntura; que participaram ativamente de seu desenvolvimento; que a traçaram ou que calaram solenemente a respeito, e que têm a ousadia de culpar quem esteve a cinco minutos da morte por denunciar, na medida de suas forças e de sua capacidade (imperfeitíssima, mas certamente corajosa) o absurdo da vida brasileira quotidiana.

Bolsonaro é um homem pequeno, e sabe disso. Mas vai sair dessa campanha como um gigante, à revelia de suas características pessoais e do desfecho eleitoral. Ninguém, como ele, ousou enfrentar tão abertamente o consenso hipócrita dessa ex-nação corrompida até a alma. Nenhum outro acusou com tal clareza nossas elites de olhos permanentemente fechados à barbárie de cada dia - nas escolas, nas mídias, nas ruas.

Não creio que eu estivesse errado sobre o homem, lá atrás. Ele tem todos os defeitos conhecidos. Mas seu papel histórico hoje, audaciosamente assumido em ato da mais perfeita liberdade, vai mesmo tomando a dimensão do mito.

No fim das contas, foi ele quem se apresentou enquanto os mais preparados se evadiam -- tal como reconheceu o brilhante Paulo Guedes, quando de sua decisão por assessorá-lo.

Os senhores sabem: é assim que começam todos os grandes épicos. Os doutores calam; falam as pedras o que há de ser dito. Os reis se apagam em suas torres de pedra, e o tolo hobbit marcha contra o senhor da escuridão (para descobrir, na jornada, as chaves de uma sabedoria inacessível). Seria insano quem se apegasse à inadequação do portador para deixar de apoiá-lo em sua batalha. O que ele carrega é o destino de todos.

Entre os que tomaram parte no conclave, meu voto só pode ir para Jair Messias Bolsonaro e Mourão, seu escudeiro. Que Deus os ilumine e guarde em retidão suas intenções.

Leonardo Faccioni

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